Primeira-dama do Zimbábue processa jornal por documento vazado

17-12-2010 18:34

Segundo Standard, que cita telegrama obtido pelo WikiLeaks, Grace Mugabe teria obtido altos lucros com minas de diamantes

 

A primeira-dama do Zimbábue, Grace Mugabe, entrou com um processo contra um jornal local que publicou uma reportagem citando um documento divulgado pelo site WikiLeaks acusando-a de ter obtido "lucros tremendos" com as minas de diamante do país. A mulher do presidente está pedindo uma indenização equivalente a R$ 25,4 milhões do jornal dominical The Standard.

As minas de Marange, no leste do Zimbábue, estão entre as mais ricas do mundo. Comandantes do Exército e aliados do presidente Robert Mugabe também foram acusados de lucrar com a venda de diamantes.

A reportagem publicada pelo Standard no último domingo relatava um documento diplomático preparado pelo ex-embaixador americano no país James McGee, citando o diretor de uma mina britânica no Zimbábue. O executivo teria dito a ele que "um pequeno grupo de altos funcionários do Zimbábue vêm extraindo lucros tremendos com os diamantes da mina Chiadzwa". O documento cita Grace Mugabe e o presidente do Banco Central, Gideon Gono, entre os beneficiários das vendas de diamantes, além de outros comandantes militares e lideranças do partido governista, Zanu-PF.

O advogado da primeira-dama classificou os relatos como "falsos, escandalosos e maliciosos".

Novas eleições

Grupos de oposição há tempos acusam autoridades militares de forçar moradores locais a procurar os diamantes, matando os que se recusam a obedecer as ordens ou a não passar os lucros para o Tesouro. As autoridades acusadas sempre negaram as alegações.

Correspondente da BBC em Harare, Karen Allen diz que as acusações no documento divulgado pelo WikiLeaks poderão levar os membros do Zanu-PF a romper com seus parceiros no frágil governo de união nacional e pressionar por eleições no próximo ano. Mugabe aceitou dividir o poder com seu ex-rival Morgan Tsvangirai após eleições com resultados contestados em 2008.

O Standard já havia enfrentado problemas com as autoridades do país anteriormente. No início do mês o editor o jornal foi preso por causa da publicação de uma reportagem que afirmava que a polícia estava recrutando veteranos da guerra de independência do país, nos anos 1970, em preparação para possíveis eleições antecipadas.