Suposta vítima sexual de Assange é ativista, cristã e feminista

17-12-2010 18:26

Uma feminista que discute temas como direito dos animais e paz no Oriente Médio em um blog na internet está por trás de uma das duas acusações de “crimes sexuais” que levaram à prisão do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, em 7 de dezembro. Funcionária da ala cristã do Partido Social Democrata da Suécia, Anna Ardin, de 30 anos, ajudou a organizar a visita de Assange a Estocolmo que culminaria na investigação por estupro em agosto.

O fundador do WikiLeaks nega as acusações e garante que as relações sexuais que manteve com Anna Ardin e Sofie Wilen, a segunda suposta vítima, foram consensuais. As denúncias, segundo ele, teriam motivação política e estariam relacionadas à atuação do WikiLeaks, site especializado em divulgar documentos oficiais confidenciais.

Foto: Reprodução

 

Em entrevista ao tabloide sueco “Aftobladet”, uma das supostas vítimas negou a hipótese de motivação política. “A responsabilidade pelo que aconteceu comigo e com a outra garota recai sobre um homem que tem uma visão deturpada das mulheres e não sabe aceitar ‘não’ como resposta”, afirmou.

Seminário

Assange desembarcou em Estocolmo na quarta-feira de 11 de agosto para ministrar uma palestra em um seminário promovido pelos cristãos do Partido Social Democrata, incluindo Anna, três dias depois. Jornais suecos e o tabloide britânico “Daily Mail”, que dizem ter tido acesso ao depoimento das duas mulheres, afirmam que Anna ficou responsável por encontrar um lugar para Assange se hospedar.

Naquela época o fundador do WikiLeaks já vivia quase como um nômade e buscava máxima discrição sobre seu paradeiro, pois documentos vazados pelo site sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão haviam causado polêmica nos EUA.

De acordo com as publicações, Anna ofereceu a Assange seu apartamento, argumentando que ela estaria fora de Estocolmo no período de sua estada e só voltaria à cidade para o dia da palestra, no sábado de 14 de agosto. A mulher, porém, antecipou a volta para a sexta-feira e os dois teriam passado a noite juntos em sua casa.

Anna, que iniciou a relação sexual com Assange de forma consensual, diz ter pedido para ele parar quando o preservativo se rompeu. Não há, porém, explicações de como ela percebeu o problema com a camisinha.

Anna e Assange teriam comparecido ao seminário no sábado, quando o criador do WikiLeaks teria conhecido Sofie Wilen, uma jovem de cerca de 20 anos que supostamente ficou fascinada por ele quando assistiu a uma entrevista na televisão.

Os dois teriam almoçado juntos, ido ao cinema e mantido relações sexuais na casa de Sofie. Segundo a jovem, o sexo passou a não ser consensual quando Assange se recusou a interromper a relação quando não usava o preservativo. Há também relatos de que ela teria dito à polícia que o fundador do WikiLeaks fez sexo sem proteção enquanto ela dormia.

Dias depois, quando Assange já havia deixado a Suécia, as duas mulheres teriam se falado por telefone e descoberto que ambas tinham mantido relações sexuais com ele. As circunstâncias do telefonema não estão claras, pois aparentemente ambas não se conheciam até então. Além disso, o jornal americano “The New York Times” afirma que as denúncias à polícia foram feitas separadamente.

América Latina

A reportagem do iG tentou entrar em contato com Anna, mas não obteve resposta. Em seu blog, ela afirma que em dezembro estaria em Yanoun, na Cisjordânia, em uma “missão ecumênica” de três meses, cujo objetivo é “promover o respeito pela lei internacional” e ajudar “grupos vulneráveis” israelenses e palestinos.

O conflito no Oriente Médio é um dos principais temas abordados por Anna em seu site, no qual também há discussões sobre questões tão diversas quanto feminismo, direito dos animais e vegetarianismo.

A sueca se apresenta como “cientista política, comunicadora, empresária e escritora freelancer com conhecimento especial sobre fé e política, questões de igualdade, feminismo e América Latina”.

Anna conheceu pelo menos dois países latino-americanos: Cuba e Argentina. A ilha comunista foi tema de trabalho acadêmico defendido por ela em 2007 na Universidade de Uppsala, localizada na cidade sueca de mesmo nome. No trabalho, Anna analisa a organização política da oposição cubana e seu papel no que chama de “provável transição para a democracia”.

A jovem também diz ter trabalhado como estagiária na Embaixada da Suécia em Buenos Aires em 2005. Um texto publicado na época descreve o então presidente da Argentina Néstor Kirchner como “simpático” e vê semelhanças entre o peronismo e o partido sueco ao qual é filiada. “Sinto-me em casa”, escreveu.

‘Vingança’

Uma busca pela palavra “Assange” no site de Anna resulta em um post de 19 de janeiro de 2010, no qual ela publica o que chama de “tradução livre” para o sueco de um texto em inglês sobre vingança, mas no qual não cita em nenhum momento o nome do fundador do WikiLeaks.

Após sites e publicações impressas terem citado Anna como autora – e não tradutora – do texto, em dezembro de 2010 ela atualizou o post, substituindo a tradução que tinha feito pelo original em inglês.

Na seção de comentários, um leitor pergunta em inglês como Anna pode ser, ao mesmo tempo, cristã e “obcecada por vingança”. Ela responde dizendo que, quando publicou o post, estava “chateada” com alguém que havia lhe traído.

“Às vezes é muito difícil seguir em frente sem algum tipo de acerto de contas”, escreveu. “Minha vingança foi postar essa tradução.”

Ela se diz “triste” ao perceber que o blog levou “muitos bons cristãos a rogar pragas, dizer que sou louca e que o mundo tem direito de se vingar de mim porque sou vingativa”. “Espero que a raiva global contra esse post leve muitas pessoas a repensar sua própria necessidade de vingança, e o modo como tratam outros seres humanos”, afirmou.

A sueca também usou o Twitter para desabafar. Seu único post no microblog, publicado em 9 de dezembro, diz: “Estou cheia de tudo o que acontece. Será que um dia vai acabar?”